27/01/2010

À Espera no Centeio


Sempre tive um fascínio por autores "reclusos". A escrita, segundo dizem, é um exercício de solidão. Por conseguinte, são muitos os escritores (e.g., Cormac McCarthy) que se isolam do Mundo enquanto trabalham as suas obras. De facto, alguns dos vultos da literatura são conhecidos pela sua relutância em comparecer em eventos públicos e/ou em dar entrevistas.

J.D. Salinger está entre os mais famosos ermitas da literatura contemporânea. A publicação em 1951 de The Catcher in the Rye (À Espera no Centeio) constitui um dos marcos da cultura literária norte-americana. Nele seguimos as aventuras de Holden Caulfield, um rapaz de boas famílias que, após ter sido expulso do seu colégio privado, decide deambular por Nova Iorque durante alguns dias antes de regressar a casa. Dotado de uma sensibilidade acima da média, Holden passa por situações para o qual não está preparado, sendo o livro, em certa medida, um "roteiro" de iniciação na vida adulta. Esta obra, por muitos considerada a que melhor retrata a ansiedade e o desespero juvenis, consagrou Salinger como um escritor de enorme talento. A narrativa na primeira pessoa, aliada ao perfil complexo do personagem central, tornam o livro bastante apelativo. Contudo, aquilo que dele ressalta é a forma brilhante como Salinger consegue projectar o turbilhão de emoções que se levantam durante a adolescência.

Em 1963 J.D. Salinger muda-se de Nova Iorque para Cornish (pequena vila no New Hampshire) dando início a uma nova vida, em reclusão. O seu último trabalho foi publicado em 1965. Desde então especula-se sobre a dimensão da obra póstuma que o escritor nos deixará, pois é certo que nunca parou de escrever. Talvez nunca saberemos o que levou o autor a esconder-se do Mundo, ou melhor ainda, dos "cretinos" que nele habitam. Eu acredito que a resposta encontra-se em The Catcher in the Rye. Tal como acredito que J.D. Salinger e Holden Caulfield são a mesma pessoa.

JP

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