03/10/2010

Ontem à Noite


Fui ver os U2 a Coimbra com mais dois Coronas. Consegui o bilhete poucos dias antes do concerto e confesso que não estive a suster a respiração até à grande data. Contudo, no momento em que a banda entrou em palco ao som de "Space Oddity" do David Bowie senti uma estranha convulsão interior. De repente, lembrei-me do tempo em que descobri o gosto pela música rebuscando os velhos discos dos meus pais, entre os quais se encontravam o "Joshua Tree" e o "Achtung Baby". Do tempo em que ouvia roque pelo roque, sem análises fenomenológicas (tens razão MLP). Ao mesmo tempo senti-me envergonhado, pois nos últimos anos remeti estes rapazes de Dublin para o baú das velharias musicais, enquanto me foquei em ouvir bandas do indie roque e a experimentar outras sonoridades (algumas delas muito boas, entenda-se). A vergonha levou-me à indignação. Alguns críticos musicais são hipócritas, condenando toda e qualquer banda que atinja um estatuto planetário como os U2. Aparentemente não suportam que um grupo de 4 amigos consiga, ao final de 30 anos de carreira, pôr 42 mil pessoas a cantar em plenos pulmões músicas de sempre. Polémicas à parte, o concerto de ontem foi para mim o melhor do ano. Os U2 mais uma vez não desiludiram os seus fãs, revisitando canções como "I Will Follow" "Where the Streets Have No Name" e "One". Alguns temas mais recentes como "Magnificent" e "Get on Your Boots" fizeram igualmente furor, provando que a banda ainda tem algo para dar no plano criativo. A juntar-se à qualidade da música, do espectáculo visual, das mensagens de cariz humanitário e da comunhão entre a banda e o público, fomos ainda presenteados com um Bono em grande forma. O homem pode ter um grande ego, mas garanto-vos que esse ego é proporcional ao seu talento, ao seu profissionalismo, à sua vocação. Bono entrou a entoar "Briosa!" cumprimentou o público com um "Olá! Tudo bem?" e pediu ao pessoal de Braga, Lisboa, Porto e Coimbra que manifestassem a sua presença. Durante o concerto não parou de interagir com os presentes, correndo, dando socos no ar e balançando-se no cabo de um microfone suspenso. Todos estes pormenores fazem a diferença, levando-nos a concluir que os U2 interessam-se pelos seus fãs, pelo país em que estão a actuar e esforçam-se por oferecer um espectáculo memorável. Esta foi então a melhor retribuição para todos aqueles que pagaram bom dinheiro pelo bilhete ou que estiveram 48h numa fila à porta da Fnac, há um ano, para garantirem a sua presença. Veredicto final: o público rendeu-se à banda e a banda rendeu-se ao público, prova disto está na despedida, ao som de "Moment of Surrender".

JP

1 comentário:

Martinho Lucas Pires disse...

devo confessar que se visse hoje os U2 muito provavelmente ia achar piada.