18/04/2010

Havemos Messi

Os Coronas têm o prazer de apresentar Lobster Cavilhas como Corona honorário (põe-te a pau JG).

"Lionel Messi é o futebol resgatado do seu lado submerso e mesquinho. Quando o vejo jogar, compreendo como tudo o resto é estúpido e quase me envergonho de perder ainda tempo a discutir túneis e árbitros com quem vê no futebol quase só uma guerra tribal e uma escola de ódios organizados. Messi tem cara de miúdo, envergonhado pelo seu génio e quase pedindo desculpa por ter de enver- gonhar os seus colegas de profissão, lá em baixo no relvado, onde ele faz com uma bola nos pés e à vista do mundo o que nós fazemos em sonhos ou imaginamos que será possível fazer. Lá, no alto da bancada, estão os figurões da bola, os que compram clubes como poderiam comprar cavalos de corrida ou iates de trinta metros, os que dirigem os clubes como coisa sua, explorando em benefício próprio a paixão dos adeptos ou o talento de jovens como Lionel Messi. De vez em quando, as câmaras de televisão desviam-se do relvado e de Messi e focam-se lá em cima, no que chamam a «bancada presidencial», onde os figurões se fazem tratar por «presidente» e olham de cima, como se fossem Césares contemplando os seus gladiadores.

Gosto do jeito de miúdo envergonhado deste deus dos estádios. Ele não tem tatuagens, nem brincos, nem exibe os peitorais para as câmaras, não discute com os árbitros em atitude de vedeta, não finge faltas que não sofre, mesmo quando as sofre, e não protesta, mesmo quando um caceteiro brutal como o Xabi Alonso tenta arrumá-lo do jogo à porrada. Nas férias, ele não é «flagrado» com «miúdas de programa», contratadas pelo seu agente de imprensa para prolongar a sua aura fora do estádio. Ninguém sabe como vive e o que faz quando não está a fazer o que interessa e o que nos deslumbra, que é a jogar futebol. E em nenhum momento, Messi se acha superior ao Barcelona, que o revelou ao mundo, ou se esquece da responsabilidade social, cultural, histórica, de representar a cidade de Barcelona e a Catalunha: esse foi o erro de apreciação de Luís Figo. Jamais veremos Messi a ser alvejado com moedas ou cabeças de porco. Ele não joga por dinheiro, joga porque recebeu um mandato divino para o fazer. "

1 comentário:

Os Coronas disse...

Bravo! Figo teve direito a um poema do potencial (ainda que improvável) futuro Presidente da República, Manuel Alegre. Contudo, maior honra teve Messi ao receber, em prosa, rasgados e sinceros elogios do genial André "Lobster" Cavilhas. Bem haja, exmo. sr. dr.

JP