Podemos caracterizar os escritores em duas categoria diferentes: os que escrevem acerca de uma parte da realidade e aqueles que ousam escrever sobre tudo - real, irrisório, possível e impossível. Thomas Pynchon encontra-se inserido nesta segunda categoria. No seu primeiro livro, V. (1963), o autor escreve sobre a história do século XX, convidando o leitor a embarcar numa viagem na busca de V. Esta misteriosa entidade está ligada aos mais importantes acontecimentos da primeira metade do século passado (e.g., as duas Guerras Mundiais) sendo a obsessão de Stencil, uma das personagens principais. Pelo meio Pynchon dá-nos a conhecer personagens peculiares - dispensados da Marinha, pseudo-artistas e um romântico cirurgião plástico -, interrompe o discurso para nos apresentar divertidas canções e descreve-nos situações que apenas brotam da mente de génios ou de consumidores de LSD*. No final do livro sobra uma questão essencial: "Quem é, afinal, V.?" A resposta está aberta a todas as interpretações. Se a intenção de Pynchon era levar os leitores a partilhar da mesma curiosidade pela identidade de V., devo admitir que o objectivo foi cumprido, pelo menos na parte que me toca.
* Dois atributos não mutuamente exclusivos.
JP
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JP
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