14/03/2010

SMS e Messenger

O que vão ler de seguida é uma adaptação de um texto da Inês Pedrosa que li na Revista Única. Um texto muito bem escrito em que para variar, a autora tem toda a razão. Decidi fazer esta adaptação e falar deste tema, porque é sobre uma matéria em que vale a pena fazer uma reflexão séria (as SMS e o Messenger). Sei que é um bocado longo mas vale a pena ler até ao final.

Esquece essa gaja. É uma Sócrates dos afectos: nunca tem tempo, nunca é nada com ela, nunca sabe de nada, nunca fez nada, nunca disse nada.

Esta frase, dita numa mesa de café, recordou-me uma teoria segundo a qual tudo é politica - em paticular o que menos parece sê-lo. O mesmo é dizer que tudo é moral, porque a politica é a organização social dos valores que alicerçam uma sociedade. E tudo é economia como dizia Marx, porque há exploradores, explorados, lucros e prejuizos injustamente distribuidos em todos os sectores das relações humanas. O problema de tudo ser tudo, é que ao fim do dia, tudo é nada. As palavras dissolvem-se nos silêncios dos ecrãs - sem o grão da voz, sem o compromisso do rosto, sem a disponibilidade da presença. Por alguma razão, os telemóveis com transmissão de imagem tiveram tão pouco sucesso, ao contrário das mensagens escritas. SMS: Short Message Service. Uma pessoa está no sitio A com a pessoa B, mas por SMS pode dizer que está no sitio C, sozinha. O tom da voz pode denunciar a mentira, a SMS não denuncia nada, nem compromete ninguém.


Nas escolas secundárias, os adolescentes namoram por SMS ou pelo Messenger. Do principio ao fim do namoro, mal se vêem. Eles não vão procura-las nos intervalos das aulas para não fazerem figura de parvos diante dos amigos dele e para não serem troçados pelas amigas dela. Elas idem, pelas mesmas razões e ainda uma suplementar, rançorosa de tão velha: não querem parecer oferecidas. O femenismo já fez o seu caminho. Quando percebeu que os homens não gostam de mulheres com iniciativa, o feminismo meteu a viola no saco, mal a meu ver, e voltou para casa passando apenas a falar, no tom manso e vegetal que se diz apreciar no sexo femenino, de desigualdade salarial - da janela para a rua, em palavras bem maquilhadas e engraçadas, enquanto estende a roupa do marido e dos filhos.

É tudo por SMS ou pelo Messenger: o pedido de namoro, a aceitação, as conversas. Curto rápido e eficiente. Sem problemas de saúde, para alivio dos pais. Nem a gripe A nem a gripe das aves, nem a sida, nem a gravidez.
Estamos a assistir à criação de uma geração que tamborila o amor ao de leve nas teclas dos telemóveis e dos computadores, pianos sem som nem alma nem cordas, apavoradas com os sentimentos, os compromissos a decepção e o sofrimento, uma geração de solitários que foge ao calor do abraço e procura as palmas da multidão, que prefere ficar em casa a olhar para o próprio umbigo em vez de se aventurar e apanhar um enxerto de porrada desta coisa que se chama vida.

Como dizia Henrique Raposo "estamos a criar uma geração de mariquinhas. Os nossos miúdos estão a crescer numa redoma pós-moderninha, longe das coisas mais simples....Estamos a criar mariquinhas faraónicos, cara leitora. Mariquinhas que não sabem como é bom sacar um beijo à chuva".

DP



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